quarta-feira, 24 de abril de 2013

O Santo e a Porca - Ariano Suassuna

 
O Santo e a Porca  é uma peça teatral de caráter cômico escrita no ano de 1957 por Ariano Suassuna. A peça aborda o tema da avareza através de uma narrativa próxima à literatura de cordel e dos fogueados nordestinos.
A obra não é uma produção original do autor. O próprio Suassuna afirmou que ele fizera uma adaptação da peça Aululária escrita por Plauto, um escritor latino que viveu antes de cristo. Mas devido sua belíssima releitura, contextualizada à realidade nordestina e com uma trama mais complicada, o texto é considerado uma peça original e suprema.

Resumo

A fábula narra a história de um velho avarento devoto de Santo Antônio, conhecido como Euricão Árabe, que esconde em sua casa uma porca lotada de dinheiro.
Os fatos acontecem na sala da casa de Eurico onde há uma estátua de Santo Antônio ao lado de uma antiga porca de madeira recheada de dinheiro, mas cujo conteúdo ninguém conhece ou desconfia, pois Eurico sempre se fazia de pobre e coitado.
Em sua casa vivia sua filha Margarida, sua irmã Benona, a empregada Caroba e, há algum tempo, Dodó, filho do rico fazendeiro Eudoro, que se fingira de coitado para ficar próxima a sua amada Margarida, a quem namorava as escondidas.
Toda a confusão inicia-se com uma carta enviada a Eurico por Eudoro, através de Pinhão, noivo de Caroba, dizendo que iria visitá-lo para pedir seu bem mais precioso.
Eurico fica apreensivo imaginando que Eudoro vem em busca de sua porca enquanto Caroba, percebendo que o fazendeiro viria pedir a mão de Margarida, engendra um plano para ganhar um dinheiro extra para se casar com Pinhão, para Margarida e Dodó se casarem e para Eudoro casar com Benona, pois, os dois foram noivos no passado.
Caroba convence Eurico, em troca de uma comissão, a tirar vinte contos de reis de Eudoro antes que este lhe peça qualquer dinheiro e convence Benona de que Eurico irá pedir sua mão em casamento.
Quando Eudoro chega para pedir a mão de Margarida, Caroba a tranca no quarto e corre para também trancar Benona. Caroba sai vestida de Margarida e recebe Eudoro.
Dodó vê a empregada, mas pensa que é Margarida, então, sem explicar-lhe nada, Caroba o tranca no quarto junto com Margarida.
Em seguida Caroba se veste com as roupas de Benona e recebe Eudoro, insinuando-se para ele que, novamente, fica interessado na antiga noiva. Caroba então o leva para o quarto de Benona e o tranca junto com a ex-noiva.
Caroba e Pinhão se trancam em outro quarto e Dodó e Margarida ao sair são surpreendidos por Eurico que acredita que o rapaz está querendo lhe roubar a porca.
Com o barulho, Benona e Eudoro e Caroba e Pinhão saem do quarto juntos e felizes, enquanto Eurico expulsa os três casais ao descobrir que o dinheiro da porca não tem mais valor.
 Para entender mais....
Em 1957, Ariano Vilar Suassuna escreveu o livro O Santo e a Porca, publicado pela editora José Olympio LTDA. Dividido em três atos o livro é uma imitação da peça A marmita ou Aululária (que foi escrita entre 194 e 191 a.C) do latino Plauto, como Suassuna deixa claro no subtítulo do obra.
 A historia se desenrola em torno do avarento comerciante Eurico engole-cobra ou Euricão, e de seu apego anormal a uma porca de madeira, na qual depositou dinheiro sua vida inteira, e a uma imagem de Santo Antonio, a qual é devoto. Na casa do comerciante moram a filha Margarida, a irmã de Euricão, Benona, a empregada Caroba e Dodó, filho do rico fazendeiro Eudoro. Dodó vive disfarçado, finge-se de torto, deformado e sovina. Desse modo conquistou Euricão, que lhe atribui a função de guardião da filha, a quem Dodó namora às escondidas. Não podia esquecer do noivo de Caroba, o Pinhão, que é empregado de Eudoro.
A peça começa Pinhão trazendo uma carta de Eudoro Vicente para Euricão informando-lhe que fará uma visita para pedir-lhe o seu bem mais precioso. Eurico, apreensivo, pensa que lhe pedirá dinheiro emprestado, pois insiste em se dizer pobre, repetindo a frase: “Ai a crise, ai a carestia”.
Caroba percebe que Eudoro é mal interpretado por Eurico, o que na verdade o fazendeiro queria como bem mais precioso era pedir Margarida em casamento. A fim de ganhar algum dinheiro para casar-se com Pinhão, arma um plano para livrar Margarida e fazê-la casar com Dodó, para isso Eudoro teria que se casar com Benona, que já tinham sido noivos há muitos anos. Todos os acontecimentos que se sucedem é tramado por Caroba, no intuito de receber uma comissão prometida por seu padrão, convence Benona de que Eudoro irá pedi-la em casamento; faz Eudoro acreditar que pede Margarida; faz Eurico crer que Eudoro pede Benona; armar um encontro entre Eudoro e Margarida na penumbra; ficar no lugar de Margarida, com o vestido dela. Só que ela não esperava por: Dodó sente ciúme de Margarida pensando que ela irá se encontrar com Eudoro, seu pai; Pinhão sente ciúme de Caroba ao saber que ela irá encontrar-se com Eudoro em lugar de Margarida; Euricão desconfia que querem roubar sua porca recheada, pois ouve falarem em devorar a porca e pensa ser a sua, porém é a do jantar; Pinhão desconfia de Eurico porque este age de modo estranho, e vai investigar, ele consegue roubar a porca e a esconde, mas Margarida conta a seu pai que logo retoma o poder sobre a porca. Bem como diz o ditado “alegria de pobre dura pouco”, Eudoro fala para Eurico que o dinheiro não valer mais nada, já saiu de circulação, o velho acredita que foi traído pela vida. No final as mentiras são reveladas e todos se entendem e partem, ficando Euricão só, com o santo e a porca.
A personagem Caroba se assemelha bastante a outro personagem criado pelo Suassuna o João Grilo, do Alto da Compadecida, que também vai desenvolvendo a historia com certas mentiras, chegando a certos momentos chamados de qüiproquó (também denominado de interferência), que consiste em um dialogo entre personagens, em que, enquanto os mesmos pensam estar falando do mesmo assunto, na verdade tratam de assuntos divergentes, gerando assim, um engano.  
 Nessa obra percebe-se claramente o dedo de Ariano, pois ele consegue escreve colocando um fundo moral/filosófico. No personagem Eurico Árabe fica evidente a intenção da moralidade filosófica. O velho avarento invoca o santo, questiona-o, do início ao fim de sua aventura, pode ser comparado a nos mesmo, nossa traição a Deus e aos seres que mais amamos. Na historia o avarento oscila entre o apego ao santo e a porca, que pode também ser comparado ao nosso apego aos assuntos espirituais e os matérias. No momento em que Eurico descobre que todo seu dinheiro não vale mais, ele fica desolado não quer acreditar, podemos perceber isso nosso dia-a-dia, vivendo numa cegueira (a rotina) na qual não paramos para ver a verdade. 
 
Ariano Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927 na cidade de Nossa Senhora das Neves, na Paraíba, escreveu grande obras como: Uma mulher vestida de sol (1947); Farsa da boa preguiça (1973); História d'o Rei degolado nas catingas do sertão Ao sol da onça Caetana (1977) dentre outros.
Muitos autores gostam de retratar em suas obras o nordeste, como se fosse um campo seco e sem vida, eles gostam de relata apenas o lado improdutivo da região. Ariano Suassuna vai além do que simplesmente trabalhadores na caatinga, ele revela a comédia que existe em cada nordestino. Essa é uma obra “bem gostosa”, que é recomendável a todas as idades.

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