sexta-feira, 8 de abril de 2011

Você sabe quem era Carlos Queiroz Telles?



José Carlos Botelho de Queiróz Telles (São Paulo SP 1936 - idem 1993). Autor. É um dos fundadores do grupo Teatro Oficina nos anos 60. Ganha projeção como dramaturgo nos anos 1970, através de adaptações ou recorrendo a temas ligados ao teatro de resistência e inspirados por acontecimentos do momento.

Seu primeiro texto, A Ponte, escrito em 1958, é levado à cena pelo Teatro Oficina no mesmo ano, ao iniciar suas atividades ainda em fase amadora. Forma-se em direito na Universidade de São Paulo, USP, em 1959. Volta à dramaturgia somente em 1972, com A Semana - Esses Intrépidos Rapazes e Sua Maravilhosa Semana de Arte Moderna, escrita para situar com novo olhar os acontecimentos do histórico movimento de renovação das artes brasileiras de 1922, e Frei Caneca, sobre a vida do padre revolucionário que pretendeu desligar Pernambuco do jugo português, com a Confederação do Equador no século XIX. Ambos, com direção de Fernando Peixoto, integram o movimento de recuperação do Theatro São Pedro, promovido por Maurício e Beatriz Segall no início da década.
Ainda em 1972, com A Viagem, num bem-sucedido e grandioso espetáculo de Celso Nunes, produzido por Ruth Escobar, Queiroz transpõe para a cena o poema épico Os Lusíadas, de Luís de Camões. É premiado como melhor autor com o Molière, Associação Paulista de Críticos de Artes - APCA, e Independência do Conselho Estadual de Cultura do Estado de São Paulo.
Tomando uma notícia de jornal como inspiração, o autor enfoca em A Bolsinha Mágica de Marly Emboaba, a vida de uma prostituta de baixa condição, tomando o fato como um pretexto para falar sobre o milagre econômico em curso, levado à cena em 1975. No mesmo ano, tema assemelhado está em Muro de Arrimo - monólogo sobre um operário da construção civil que, enquanto levanta um muro, ouve um jogo de final de campeonato da seleção brasileira de futebol -, agudo contraponto entre suas duras condições de vida e as expectativas de um ilusório futuro de glórias. Alinhada à resistência, a montagem de Antônio Abujamra traz Antonio Fagundes como protagonista, em desempenho elogiado e premiado.
São esses os textos mais conhecidos e difundidos do autor: através da tradução francesa de Jacques Thieriot, conhecem montagens em Paris (sob o título de José) e outras capitais européias, a partir de 1976. Marly (traduzida como A Belle Vie), além da Europa, sobe aos palcos em algumas montagens latino-americanas.
Com Arte Final, Queiroz como que ajusta contas com o mundo da publicidade, atividade que bem conhece em sua longa carreira de profissional da área. Desde 1957 trabalha - como empregado ou proprietário - em diversas empresas do setor. As trapaças e negociatas que intermediam a oferta de produtos metaforizam-se sobre o protagonista, um criador de mitos que vê sua situação existencial falir e desintegrar-se. Novamente com Antonio Fagundes no desempenho central, a montagem sobe à cena em 1978, com direção de Cecil Thiré
Completam as obras do autor A Heróica Pancada, texto sobre um grupo de ex-alunos da Faculdade de Direito, proibido em 1973, ainda inédito; Um Trágico Acidente, encenado sem repercussão em 1976; e o infantil A Revolta dos Perus, de 1985.
 Analisando em sua tese a atuação dramatúrgica de Queiroz, afirma o professor Marco Antônio Guerra: "Trabalhando o conteúdo histórico sob as mais variadas formas - do musical à tragédia, da chanchada ao drama - e utilizando todos os recursos possíveis - colagens, adaptações, documentos, depoimentos etc. - Carlos Queiroz Telles aponta também para uma nova forma de autor no Brasil pós-64: não mais aquele criador único, de significados únicos, com uma trajetória de vida linear, mas sim, como indivíduo construído e reconstruído por fatores sociais e ideológicos, cuja identidade não paira acima desses fatores e nem se desenvolve por uma lógica interna autônoma. Pelo contrário, é na relação profunda entre as estruturas existentes e sua produção dramatúrgica que reside grande parte de sua importância no quadro da cultura brasileira. [...] Queiroz faz o teatro possível: aquele que ele próprio denomina Teatro de Eficiência".
Faleceu em 17 de fevereiro de 1993, no momento mais criativo de sua
carreira.


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