Sinopse
Em 1906, em uma pequena cidade da Georgia, sul dos Estados Unidos, a
quase adolescente Celie, violentada pelo próprio pai, torna-se mãe de duas
crianças. Separada dos filhos, Celie (Whoopi Goldberg, que foi indicada ao
Oscar de melhor atriz por este filme em 1985), é doada à Mister (Danny Glover,
de Máquina Mortífera), que a trata como companheira e escrava ao mesmo tempo.
Cada vez mais calada e solitária, Celie passa a compartilhar sua tristeza em
carta. Baseado no livro de Alice Walker, A Cor Púrpura recebeu 11 indicações ao
Oscar em 1985 e já é considerado um clássico do cinema. Ao recriar 40 anos de
crises emocionais na vida de vários personagens, o diretor Steven Spielberg ( O
Império do Sol) fez o filme mais desafiante de sua carreira, capaz de despertar
fúria, risos e lágrimas.
Análise
O filme foi baseado no livro homônimo da ecritora estado-unidense Alice
Walker. O livro foi publicado em 1982, ganhou o prêmio Pulitzer em 1983 e o American
Book Award, e foi filmado por Steven Spielberg em 1985.Celie é uma menina
negra que vive com sua família, os pais adotivos e uma irmã mais nova (Nettie),
em uma área rural da Geórgia, nos Estados Unidos, no início do século XX. Ela é
violentada pelo pai, de quem tem dois filhos, um menino e uma menina.
Entretanto, assim que eles nascem, são entregues a um casal de missionários que
não pode ter filhos. Aos catorze anos, Celie é dada em casamento a um viúvo da
comunidade que precisa de alguém para cuidar de sua casa e de seus três filhos.
Ela é humilhada pelo marido e por seus filhos, como era por seu pai. O marido
às vezes usa de violência física contra ela e assim, quando o enteado (Harpo) pergunta-lhe
o que deve fazer com sua esposa insolente (Sofia), Celie responde: “Bata
nela”.Na comunidade em que Celie vive, a violência marca a relação entre homens
e mulheres. Os homens acreditam que só conseguem ser respeitados pelas mulheres
se baterem nelas. Albert ensinou ao filho que “mulher é feito criança. Mostra
quem é que manda. Nada melhor que uma boa surra”. Assim, a violência física não
só é tolerada, como ensinada e estimulada como forma de controlar o
comportamento das mulheres. A ela se junta a violência psicológica praticada
não apenas contra as mulheres individualmente, mas também coletivamente. Em um
acesso de raiva contra Celie, Albert verbalizou a maneira como as mulheres são
vistas na comunidade: “Você é negra, pobre, mulher, você não é nada”.O marido
deixa claro que não tem nenhum afeto por Celie, pois na realidade pretendia
casar-se com sua irmã, mas o pai recusou-se a dar-lhe sua mão e ofereceu Celie
em seu lugar. Entretanto, o maior símbolo de sua humilhação é também sua grande
chance de rendição: um dia Albert traz sua amante (Sugar), que estava doente,
para morar com a família. No início, ela também trata Celie como uma serviçal,
mas elas passam a ser amigas. Celie apaixona-se por Sugar, que ajuda-a a romper
o ciclo de violência, sair da família e recomeçar uma nova vida, fazendo
“calças mágicas”, que cabem em qualquer pessoa.A personagem principal é vítima
de violência psicológica e sexual por parte do pai, violência física e
psicológica pelo marido e torna-se ela mesma defensora do uso da violência para
lidar com “mulheres insolentes”, fornecendo um exemplo da transmissão
intergeracional da violência.O filme é fiel ao livro de Alice Walker, apesar
das simplificações que se fazem necessárias na transposição de obras literárias
para o cinema. Uma crítica que pode-se fazer, tanto ao livro quanto ao filme, é
que, no momento em que Celie consegue libertar-se do ciclo da violência,
começar uma vida nova e reencontrar os filhos, já adultos, ela também fica
sabendo que seu pai era, na realidade, seu padrasto. Embora este fato tenha
impacto literário, psicologicamente não tem o mesmo efeito, pois Celie foi
forçada a manter relações sexuais com o homem a quem ela atribuía a função de
protegê-la, independente de ele ser seu pai biológico ou padrasto. A gravidade
da violência e as conseqüências do abuso não são mitigadas pela inexistência de
consangüinidade entre eles.Nascida em 1944, Alice Walker conheceu a pobreza e o
racismo de perto. Durante a faculdade, iniciou sua participação como ativista pelos
direitos civis dos afro-americanos. Mais tarde, passou a militar também nos
movimentos ambiental, pelos direitos das mulheres e dos povos indígenas. Desde
suas primeiras obras ela procura retratar a opressão das mulheres negras. “A
Cor Púrpura” é seu romance mais popular, sendo considerado uma obra importante
para a compreensão da condição das mulheres negras e pobres no início do século
XX. O romance trata, também, da homossexualidade feminina. Entretanto, o filme
de Spielberg foi criticado por movimentos afro-americanos, feministas e
homossexuais por não conseguir reproduzir na tela a profundidade das questões
levantadas no livro. Estas críticas são apontadas como o provável motivo de o
filme ter recebido 11 indicações para o Oscar (incluindo melhor filme, melhor
atriz para Whoopi Goldeberg e melhor atriz coadjuvante para Margaret Avery e
Oprah Winfrey) mas não ter recebido nenhum.
Em seu romance “Possessing the Secret of Joy” (1992), Alice Walker
retoma alguns personagens de “A cor púrpura” e narra a trajetória dos filhos de
Celie, adotados por um casal de missionários que parte para um vilarejo na
África. Eles têm uma amiga que se submete voluntariamente aos rituais de
escarificação do rosto e circuncisão feminina quando seu vilarejo é destruído
pela construção de uma rodovia, permitindo a Alice Walker explorar as questões
envolvidas nestes rituais no mundo contemporâneo.
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