sábado, 16 de junho de 2012

As Vítimas-Algozes - Quadros da escravidão, de Joaquim Manuel de Macedo


 

O livro As Vítimas-Algozes, de Joaquim Manuel de Macedo, foi escrito na segunda metade do século XIX, em 1869, 19 anos antes da Abolição da Escravidão. O livro pertence ao Romantismo, que foi uma escola literária de grande importância para a história de nossa literatura.

A obra não agradou o público oitocentista e recebeu várias críticas publicadas na imprensa, sendo considerado por Ubiratan Machado como “o livro mais atacado pela crítica durante o período romântico”.

As Vítimas-Algozes é, ao seu modo, um romance abolicionista. Não daquele abolicionismo que encontramos nas obras dos poetas acima relacionados. Como explica Macedo, na nota “Aos Nossos Leitores”, não lhe interessou, nas “educativas” e “moralizantes” histórias que entregava aos consumidores de sua vasta obra, pintar “o quadro do mal que o senhor, ainda sem querer, faz ao escravo”, mas, sim, o “quadro do mal que o escravo faz de assento propósito ou às vezes irrefletidamente ao senhor”. Dito de maneira mais direta, o romance antiescravista de Macedo quer convencer os seus leitores de que é preciso libertar os escravos não por razões humanitárias, mas porque os cativos, sempre imiscuídos nas casas-grandes e sobrados, introduzem a corrupção física e moral no seio das famílias brancas.

Na obra o autor expressa a idéia de que a escravidão faz vítimas algozes e deve ser gradualmente extinta, sem prejuízo para os grandes proprietários de terra. Num tom conservador e usando personagens como a escrava Lucinda, o autor defende a tese de que a escravidão cria vítimas oprimidas socialmente, mas com uma perversão lógica, imoral e com influência corruptora.

O tratamento entre patrão e escravo nos últimos anos do cativeiro, uma intimidade que beira o sado-masoquismo foi retratada por Joaquim Manuel de Macedo neste livro. Ele denuncia que, se o escravo é inegavelmente vítima de um regime desumano, a sua presença igualmente desagrega a sociedade branca no que ela teria de mais recomendável. 

A obra é um retrato perfeito do Brasil pós-abolicionista.

De acordo com o contexto histórico da época, Joaquim Manuel alertava ao leitor burguês de que o melhor a fazer era gradualmente abolir a escravidão. Depois da abolição, ele explica que os negros foram 'largados' nas favelas, como acontece no início do filme "Cidade de Deus".

Desfilam pelas páginas das três histórias que compõem o livro: o negro feiticeiro, o “moleque” traiçoeiro, a escrava assassina, as negras que se amasiam com seus patrões, a mucama lasciva, os negros desocupados dos botequins, os mulatos espertalhões, enfim, um sem número de tipos que demonstram ao leitor o quão comprometedor da estabilidade social era a presença do escravo na intimidade doméstica.

O objetivo político das três histórias que compõem o livro está claro desde a nota inicial aos leitores. Professando narrar apenas “histórias verdadeiras”, queria firmar, na “consciência” do público, “as verdades que vamos dizer”. Obra de convencimento, portanto, As vítimas-algozesera tentativa de obrigar os leitores a “encarar de face, a medir, a sondar em toda sua profundeza um mal enorme que afeia, infecciona, avilta, deturpa e corrói a nossa sociedade, e a que nossa sociedade ainda se apega semelhante a desgraçada mulher que, tomando o hábito da prostituição, a ela se abandona com indecente desvario”. A retórica é semelhante àquela dos conselheiros de Estado em 1867, e Macedo recita as estrofes do isolamento internacional do país, do exemplo da guerra civil americana, do processo de emancipação em Cuba, e do caráter “implacável” da reforma, “exigência (...) da civilização e do século”. Afirma que a escravidão é “cancro social”, que se não “estirpa (...) sem dor”; mas o “adiamento teimoso do problema” agravaria o mal, pois o país poderia ter de enfrentar a “emancipação imediata e absoluta dos escravos”, colocando “em convulsão o país, em desordem descomunal e em soçobro a riqueza particular e pública, em miséria o povo, em bancarrota o Estado”. 

O cenário apocalíptico que Macedo antevê como decorrência de uma possível emancipação imediata dos escravos revela já de início o que seria esta obra, a forma como faz desfilar uma galeria medonha de escravos astuciosos, trapaceiros e devassos, sempre dispostos a ludibriar os senhores e ameaçar os valores e o bem-estar da família senhorial. Preocupado em não deixar nada por explicar, Macedo esclarece que havia dois caminhos a seguir para mostrar aos leitores “a reprovação profunda que deve inspirar a escravidão”. O primeiro consistiria em narrar as misérias e os sofrimentos dos escravos, suas vidas “de amarguras sem termo”, o “inferno perpétuo no mundo negro da escravidão”. Seria o quadro do mal que o senhor faz ao escravo, “ainda sem querer”. O segundo caminho, aquele escolhido por Macedo, mostraria “os vícios ignóbeis, a perversão, os ódios, os ferozes instintos dos escravos, inimigo natural e rancoroso do seu senhor”. Seria o quadro do mal que o escravo faz ao senhor, “de assentado propósito ou às vezes involuntária e irrefletidamente”. 

1ª narrativa - "Simeão, o crioulo"

Pai contra Mãe (Conto), de Machado de Assis


 
O conto Pai contra Mãe, de Machado de Assis, publicado em 1906, no livro Relíquias da Casa Velha, insere-se na fase “madura” do autor, de características marcadamente Realistas. Ambienta-se no Rio de Janeiro do século XIX antes da abolição da escravatura, que serve de pano de fundo para a narrativa, não se configurando, porém, como a questão principal. Os aspectos sócio-econômicos das personagens beiram a miséria, com dificuldades muito grandes, dependência e escassez. O pensamento predominante é maquiavélico e capitalista, com destaque para a “coisificação” do ser humano, resumindo os escravos a mercadorias.


Fazendo um descortinamento do perfil psicológico das personagens, ele traz à tona o problema do egoísmo humano e da tibieza de caráter que subjuga o discernimento. A sociedade hipócrita em que se ambienta a narrativa é constantemente ironizada pelo narrador que vê em seus mandos e desmandos uma tentativa de impor a ordem social aos dominados, como se pudesse colocar-lhes uma máscara de folha-de-flandres para impedir seus excessos. A oposição em que se apresentam as personagens é uma briga de iguais que legitima o poder da classe dominante e da qual sai vencedor o mais forte, apesar de sua fraqueza moral e instabilidade emocional.



Narrado em 3ª pessoa, é um dos contos em que o autor apresenta a escravidão da maneira mais impressionante e brutal. A instituição forma uma tela de fundo, um elemento do cenário em que se desenrola a trama. Nesse conto a escravidão é o próprio centro da história. Aliás, na primeira linha do conto, o autor escreve: "A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais". Quando Machado escreveu este conto, a escravidão havia sido abolida há mais de uma década e já parecia algo do passado. Como quem não quer nada, Machado começou o conto como se fosse escrever uma anedotinha sobre uma profissão desaparecida devido ao progresso. O personagem do qual ele fala, Cândido, era um caçador de escravos fugidos que os capturava para entregá-los aos seus senhores. Mas ele não andava por montes e vales, vestido de botas, capa e chapéu grande, seguido por cachorros, como os caçadores de escravos que trabalhavam para os senhores das zonas rurais. Cândido trabalhava na cidade. Seu território de caça eram as ruelas, as espeluncas, os mercados, as saídas das igrejas, as procissões, as aglomerações do porto.

terça-feira, 5 de junho de 2012

A escrava Isaura e o Vampiro - Jovane Nunes

Um livro com um humor diferente!

Usando a história original (A Escrava Isaura) de Bernardo Guimarães, o humorista (e agora escritor - não conhecia esse lado dele!) Jovane Nunes satiriza e deixa a imaginação fluir. Já lí muitas 'paródias' (se é assim que posso chamar!) de livros, podendo até citar “Opúsculo” (paródia de Crepúsculo) e confesso que quando comecei a ler achei que seria no mesmo estilo, que seria o tipo de livro que você só quer terminar porque não agüenta mais o tanto que eles forçam para parecer engraçados. Mas confesso que este livro me prendeu mais do que eu podia imaginar. Conseguiu me encantar e me tirar boas gargalhadas com a história do jovem Leôncio (que foi transformado vampiro pelo Conde Drácula em pessoa! Veja só!) e sua obsessão pela jovem escrava branca, Isaura. Leôncio também tem outra obsessão que é construir a maior empresa de sangue. Podes crer, pessoal. Leôncio e sua mente maluca e sanguinária. Vai entender.

Bem, o autor consegue fazer com que você queira ler os outros próximos capítulos, deixando aquela pulga atrás da orelha pra saber o que vai acontecer. (Mentira! Normalmente ele - o mais apressado! - já diz o que vai acontecer lá pra frente e confesso isso é ótimo! hahaha)
Para quem leu a obra "A Escrava Isaura" consegue ver que o autor satirizou o livro por completo. Usando como referência apenas Leôncio e sua "perseguição" a Isaura e a todos que tentam ajudá-la a “fugir” dele e também o fato dela ser uma escrava branca e o casamento com Álvaro.

É um livro que mistura terror (sim, juro que tem!) com o humor bacana de Jovane Nunes. Quem tem estômago fraco quanto a sangue, não deveria ler este livro. O modo como Jovane descreve a alimentação dos “chupadores de sangue” é meio... Nauseante. Falo isso por mim que não posso ver nem um corte no dedo de outra pessoa. Imaginar aquele banho de sangue na história foi uma etapa de minha vida que consegui vencer (rs).

Aconselho a todos (tirando os que têm estômago fraco!) lerem esta obra que foi tão bem feita. É excitante
Jovane Nunes utiliza apenas o básico da obra original, inserindo muito humor e mudando alguns fatos, dando outros rumos a estória.

Isaura é a escrava querida da mãe de Leôncio, que a trata como filha e lhe da uma carta de alforria, alguns dias depois ela morre e Isaura descobre que a carta ainda não tinha sido registrada em cartório, por isso não tem validade.

Leôncio é um vampiro (transformado pelo próprio Drácula em sua viagem pela Europa) bissexual, que sonha em montar um banco de sangue no Brasil. Ele mata um senador, que tem o projeto desse banco de sangue, no navio de volta para o Brasil e casa com a sua filha (para poder seguir os projetos do Senador), Malvina, grande fã de MPB e mulheres em geral.

Estava tudo preparado para a partida quando chegou a bancada do Partido Liberal. Os políticos queriam saber de Leôncio com quanto ele iria contribuir para a próxima campanha eleitoral e se podiam levar logo o dinheiro. O presidente do partido aumentou ainda mais a raiva de Leôncio quando lhe entregou um lindo bordado.

– Minha esposa ficou encantadissíma com a sua esposa. Outro dia, as duas foram passear de charrete no bosque e, para retribuir, a minha Helena pediu que entregasse esse bordado para a sua dona Malvina.

Quando o casal chega à fazenda de Leôncio, ambos se apaixonam por Isaura, a escrava branca que tem uma beleza que ninguém consegue resistir. A partir daí Isaura é assediada por ambos, o tempo todo, passa por diversas situações até que foge para Recife.

Em sua nova vida, na “Veneza Brasileira” escolhe um nome falso (Carolina Dieckmann) e conhece seu grande amor, Alváro, o “Rambo brasileiro”, dono da empresa de alhos “Alvaralho”.

Há também Belchior, o corcunda feioso, a principio amigo de Isaura, que depois se torna comparsa de Leôncio e o ajuda na busca pela escrava fugitiva. Tem até o presidente Abraham Lincoln, que também é um ser sobrenatural e aparece do nada, em uma cerimônia, junto com Imperador. Tem várias piadas, o comportamento de Leôncio e Malvina muitas vezes é bizarro.

– Boa Noite! Quem?
– Choupana velha, quem está?
– Não tem ninguém aqui não. Mister M desapareceu com as pessoas. Ah, Mister M, senhor de todos sortilégios. Você aí, volte mais tarde. – Malvina fazendo voz de Cid Moreira.
(...) Malvina respondeu jogando uma panela que acertou a cabeça de Leôncio.
– O que é isso? – Esbravejou Leôncio
– Jabulaaaaaaannnnnniiii

O autor faz muita piada com o excesso de descrições e demais características da obra, que pertence ao período do Romantismo, que exalta a natureza, a sensibilidade e a beleza.

Se você quer um livro descontraído, engraçado e despretensioso, para passar o tempo, tenho certeza que vai gostar (e rir muito) com essa obra!


Em "A Escrava Isaura e o Vampiro", autor debocha do que se escreve sobre vampiros


Divulgação
"A escrava Isaura, graças à novela, ficou conhecido do grande publicou que não lê"
"A escrava Isaura, graças à novela, ficou conhecido do grande publicou que não lê"
O estilista Clodovil Hernandes (1937-2009) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado da escrava Isaura e de um vampiro? O roteirista, humorista e escritor Jovane Nunes coloca esses personagens na berlinda e na trama de "A Escrava Isaura e o Vampiro", obra recriada que compõe a coleção "Clássicos Fantásticos", publicado pelo selo Lua de Papel, da editora LeYa.
Essa versão do romance "A Escrava Isaura" (publicado originalmente em 1875), de Bernardo Guimarães (1825-1884), tem um breve "guia para a leitura".
Nunes adverte o leitor que o romantismo empregado nas páginas do volume é o mesmo com que Clodovil, com sapatos bicolores e terno bordado em cristais, cantaria a música "Fascinação" em um karaokê da avenida Paulista, em São Paulo.
Em entrevista à Livraria da Folha, o escritor disse que, do texto original, preservou só 20%. Aproveitou a ideia, alguns personagens e fez uma brincadeira com o romantismo.
"O livro de Bernardo Guimarães continua lá. Esse ["A Escrava Isaura e o Vampiro"] que eu escrevi é outro", esclarece. Nunes concedeu os louros do sucesso de "A Escrava Isaura" à telenovela homônima, que foi exibida pela TV Globo.
"A escrava Isaura, graças à novela, ficou conhecida do grande publicou que não lê. De certa forma, a história está no imaginário do povo."
Ironia é o tempero da recriação de Nunes. Ele explica o porquê da escolha dos seres sugadores de sangue. "Levei em consideração o que se fala e se escreve sobre vampiros, e debochei de tudo isso".
Questionado se faria o processo inverso de extrair os elementos fantásticos e deixar somente os originais em alguma obra, o escritor respondeu com uma pergunta. "Imagine tirar todo o fantástico e todo o imaginário que existe em "Grande Sertão: Veredas" [de João Guimarães Rosa]?".

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O que é gótico?


Quando você pergunta o que é um gótico você pode obter várias respostas diferentes e contraditórias, dependendo de como você formula a pergunta;porem cada resposta obtida pode representar uma parte válida desta subcultura.
Gótico é mais que um rótulo ou conceito, é ao mesmo tempo um estilo de vida e uma filosofia que tem suas raízes no  passado e no presente.
Ignorando aqui  referencias históricas das tribos de bárbaros na Europa  neste comentário específico refiro-me a o que é ser gótico, gótico é uma subcultura. Começou nos anos 70  na Europa e nos Estados Unidos.e aqui  no Brasil em 1980 
A cultura era composta de indivíduos de posturas incomuns com uma insaciável curiosidade pela cultura, intelectuais e socialmente pouco aceitos na  expressão de  sua arte e de si mesmos, demonstrando assim seu desencanto do mesmismo da sociedade moderna.
Os góticos sempre foram voltados aos movimentos musicais, literários e arquitetônicos, possuidores de um humor um tanto incompreendido, sendo assim difamados como depressivos  pois eles acham beleza e graça até nas coisas que, para uma sociedade comum, seriam  tétricas, ele vêem como belo e artístico . Os góticos são  um tanto  gauche.




sexta-feira, 1 de junho de 2012

Til - José de Alencar


O enredo de Til

Em um passeio pela fazenda, Berta - jovem pequena, esbelta - e Miguel - alto, ágil e robusto - encontram Jão Fera, com fama de bandido. Após um desentendimento entre eles, Jão vai embora a pedido da menina. Os dois amigos vão ao encontro de Linda e Afonso, irmãos gêmeos e filhos de Luís Galvão, homem inteligente, e de Ermelinda. Linda ama Miguel, mas Berta e Miguel já se amam. Contudo, para não ver o sofrimento da amiga, Berta faz de tudo para que Miguel fique com Linda.

Todos gostavam muito de Berta - apelidada de Til -, pois era alegre e de bom coração. Num outro trecho da obra, ela visita constantemente Zana, uma mulher com problemas mentais. Brás, menino de 15 anos, também com problemas mentais tentar matar Zana por sentir ciúme de Berta, mas não consegue.

A história é marcada por tentativas de assassinatos. Pelo assassinato de Aguiar, seu filho oferecera uma recompensa a quem matar o assassino Jão Fera. Já o personagem Barroso e seu bando planejam provocar um incêndio na casa de Luis Galvão para matá-lo e, depois, apagando o incêndio Barroso pretende oferecer seus serviços à viúva e conquistá-la, vingando assim a traição do passado, pois ficaria com a esposa daquele que manchara a honra de sua esposa Besita.

Ribeiro que trocara seu nome para Barroso tinha agora uma irrupção no rosto, Jão e Ribeiro tinham-se visto poucas vezes na época de Besita, por isso não se reconheceram quando se encontraram.